quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Visões negativas acerca do PowerPoint

Com base na leitura de dois textos facultados em aula: “PowerPoint is Evil” da autoria de Edward Tufte e “PowerPoint Makes You Dumb” da autoria de Clive Thompson, iremos salientar os principais aspectos que levam ambos a questionar a utilização e as características deste software lançado pelo Microsoft em 1984.

"PowerPoint is Evil" by Edward Tufte

Inicialmente começaremos por abordar a visão de Edward Tufte, que começa o seu texto metaforicamente comparando o PowerPoint aos efeitos secundários provocados pelos medicamentos. Ou seja, alguns indivíduos tornam-se demasiado dependentes do consumo de determinados medicamentos, tal como acontece com a dependência existente à utilização do PowerPoint. Com isto quer dizer que o uso excessivo, ou a dependência em relação a algo pode ser maléfico para os indivíduos.


Tufte faz ainda referência à forma como as apresentações em PowerPoint estão a ser banalizadas, e menciona que o formato (layout) da apresentação se sobrepõe ao seu conteúdo “ The standard PowerPoint presentation elevates format over content…”. Espelha ainda que anterior à aparição do PowerPoint, existiam retroprojectores que projectavam um conjunto de itens considerados importantes pelo orador, que servia de fio condutor durante uma apresentação oral. Hoje em dia porém, as apresentações em PowerPoint são utilizadas para tentar captar ao máximo a atenção da audiência, de forma a glorificar o orador, não por aquilo que este diz, mas por aquilo que a apresentação em PowerPoint mostra.


Tufte exibe ainda uma forte crítica à forma como o PowerPoint tem vindo a ser adoptado nas escolas. Acha que as crianças, ao invés de passarem 15 minutos de leitura silenciosa em frente a um monitor (a ler um reduzido número de palavras e a observarem imagens, sem muitas vezes entenderem as metáforas que estas traduzem), deveriam despender esse tempo a construir frases e a escrever composições.

Para finalizar a análise ao texto de Edward Tufte, iremos abordar o impacto que o uso do PowerPoint teve no contexto empresarial. O autor narra que cada diapositivo contém em média 40 palavras, o que em termos de informação é muito pouco. Ora, para abordar um assunto de forma perceptível será necessária a utilização de vários diapositivos, o que de certo modo irá causar enfadamento à audiência. Defende ainda que para se abordar um tema perante uma audiência e que para esta o entenda, é necessário explora-lo minuciosamente. Sendo a utilização do PowerPoint incompatível com a análise pormenorizada de determinado assunto. Tufte faz uma análise comparativa de dois exemplos de mostragem estatística: uma tabela com conteúdos estatísticos e gráficos construídos em PowerPoint. Indicia um enorme apreço pela utilização de tabelas, pois considera que são mais organizadas, e de fácil leitura e interpretação. Quanto aos gráficos construídos e apresentados em PowerPoint considera-os confusos (cores que facilmente se confundem, com legendas em código, formas estranhas de gráficos…). Conclui dizendo que o PowerPoint é um meio bastante competente para projectar as ideias fulcrais de um tema. Contudo, têm-se tornado no centro das atenções, ao invés de servir apenas de complemento à apresentação. Esta má utilização deste software denota uma grande falha por parte do orador, uma falta de respeito pela audiência que tem à sua frente.

"PowerPoint Makes You Dumb" by Clive Thompson

Este autor partilha da mesma óptica da Edward Tufte, considerando também ele que o PowerPoint enquanto ferramenta de trabalho, quando mal utilizado pode ter consequências catastróficas. A exemplo disso podemos destacar o acidente do vaivém Columbia em 2003, que segundo o relatório oficial terá ocorrido devido quer a falhas de componentes mecânicas, mas também “inacreditavelmente”, devido a erros de leitura de apresentações feitas em PowerPoint por parte dos engenheiros. Ao recorrem a este tipo de apresentações (com dados demasiadamente sintetizados) minimizaram a real dimensão dos danos, pondo em risco a vida da tripulação e da nave.
Em contraponto, Simon Marks, director de projecto para PowerPoint, salienta o vício de Tufte pela “information density”, motivo que o leva a questionar a utilização deste software. Este afirma que é apenas uma questão de escolha, o PowerPoint pode efectivamente ser utilizado para realizar uma apresentação “pesada” e cheia de conteúdo, mas este questiona se de facto as pessoas souberem de antemão como será realizada a apresentação, estas continuariam a querer assistir na mesma. A resposta de Simon Marks para tal pergunta é “They wouldn’t want it”.
Em tema de conclusão, Clive Thompson, refere que pelo menos nos E.U.A as apresentações em PowerPoint, continua a ser utilizadas pelas altas chefias do estado, dando em seguida o exemplo, de Colin Powell antigo Secretário de Estado Norte-Americano, que terá utilizado uma apresentação deste tipo, quando em Fevereiro se dirigiu as Nações Unidas com o intuito de provar que o Iraque detinha armas de destruição massiva. Thompson, afirma em tom irónico, que as armas de destruição massiva nunca foram encontradas, brincando ao afirmar “ (…) maybe Tufte is onto something”. Acusa por fim estes software de apresentações, de ser uma moderna ferramenta de “obscurantismo” – na qual a manipulação de dados é mais importante que os factos. No final o autor aconselha pessoalmente o leitor, que mesmo quando nada tiver para dizer, na verdade talvez o que necessite seja a ferramenta certa [referência indirecta ao PowerPoint] para o ajudar “(…) not to say it”.
Após a análise dos dois textos, o primeiro da autoria de Edward Tufte e o segundo do autor Clive Thompson, conclui-se que ambos, embora atacando violentamente a utilização do PowerPoint, fazem depender essa mesma utilização do usuário. Assim existem apresentações muito más com resultados catastróficos e outras boas ou muito boas, têm e que ser adaptadas as circunstâncias do meio e do público. Como tal os elementos do grupo decidiriam classificar estes dois autores na corrente interactivista.